As Festas de Iemanjá acontecem simultaneamente em diversos estados do Brasil e são celebrações cheias de espiritualidade e cultura, são realizadas anualmente no dia 2 de fevereiro, e se tornaram uma tradição nacional. Além dos rituais religiosos, as festas geralmente contam com apresentações culturais e shows musicais, promovendo a valorização das tradições afro-brasileiras e a conexão com a natureza. É um evento que une fé, cultura e turismo, destacando a riqueza da nossa herança cultural.
A devoção a Iemanjá transcende as barreiras religiosas e é um símbolo da resistência afro-brasileira. As celebrações em sua homenagem são momentos de afirmação da identidade preta e de combate ao racismo religioso, promovendo o respeito e a valorização das tradições de matriz africana no Brasil. Além disso, as festividades são grandes atrações turísticas, movimentando a economia local com a chegada de visitantes, fomentando a venda de artesanato, as apresentações culturais, o comércio local e as vendas de passeios na cidade, trazendo mais qualidade de vida para as famílias locais que vivem do turismo.
Iemanjá é uma Orixá, uma divindade presente nos cultos afro-religiosos no Brasil, originalmente tem raízes na cultura iorubá na África, onde era reverenciada como a deusa dos rios, entretanto, com a diáspora africana e o tráfico de escravizados para o Brasil, seu culto foi adaptado e sofreu algumas alterações, ao longo dos anos. Para entender essas adaptações, primeiramente temos que entender a sutil diferença entre as diversas religiões e cultos de matrizes africanas que são praticadas no nosso país, sendo as religiões mais conhecidas a Umbanda e o Candomblé.
Muito da popularização desta Orixá deve-se a Umbanda e ao sincretismo religioso que foi criado pelos escravos como única alternativa para manter viva a sua cultura religiosa. Os escravos ao serem batizados e catequizados, associavam as características dos Santos Católicos com as características do seus orixás Africanos, usando das imagens dos Santos Católicos muitas das vezes para esconder no interior dos mesmos os elementos da natureza referente aos seu orixá, como pedras e outras coisas que tornavam aquela imagem um ponto de representação de sua fé, ainda que de forma velada.
Em cada lugar do Brasil, foram feitas associações de Yemanja diferentes como Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Glória e Virgem Maria, essas associações ou sincretismos como chamamos, fizeram a popularidade da Orixá crescer de forma exponencial em todo território nacional, Iemanjá é uma das divindades mais veneradas no Brasil, sendo cultuada de norte a sul e em outros lugares do mundo. No candomblé que é uma religião genuinamente Brasileira, não africana como muitos pensam, Iemanjá como já dissemos, era um orixá do Rio, mas filha de Olokum, esse sim, senhor ou senhora dos oceanos.
Durante o período da escravidão, os escravos eram trazidos de diversos pontos da África, sendo na maioria das vezes afastados de todos seus famíliares, já em terras Brasileiras se organizavam em grupos, porém, cada um trazendo consigo sua história e religiosidade da sua região, nesta perspectiva, surge o Candomblé, uma comunidade de escravos e ex escravos de diversas áreas e regiões da África que se uniram para professar sua fé em um culto singular que nasceu no Brasil. Nesta organização, muitos orixás do Panteon africano não foram incorporados ao candomblé ou simplesmente desapareceram com o tempo, pois as tradições eram passadas principalmente de forma oral, como no caso do Olokum que seria na África O ou A Orixá dos oceanos.
Um boa percepção para entender a diferença entre o Candomblé e a Umbanda é que, nas cidades principalmente, os escravos tiveram a necessidade de buscar o sincretismo para professar sua fé, enquanto que em outras localidades mais ruais, ligadas às fazendas e agricultura, os escravos conseguiram se organizar e manter o seu culto de forma mais autêntica, não sincretizando os orixás a Santos e católicos e mantendo o idioma Iorubá como linguagem religiosa.
Iemanjá tem um grande papel nestas religiões, pois é conhecida como a Mãe dos Orixás e ligada diretamente a criação, representa a maternidade, a fertilidade, o equilíbrio emocional, espiritual e psicológico das pessoas. é reconhecida como a “Mãe de Todas as Cabeças” (Iyiá Ori) A Iemanjá foi confiada a responsabilidade de cuidar das cabeças (ori) dos seres humanos, Ela é vista como a protetora das mulheres, especialmente das grávidas, e das crianças, simbolizando a essência da maternidade e a capacidade de gerar e nutrir a vida. Além disso, Iemanjá é considerada padroeira dos pescadores e marinheiros, zelando por aqueles que dependem do mar para sua subsistência.
A festa de Iemanjá em Arraial D’Ajuda é uma celebração vibrante e cheia de energia, mesmo com seu caráter religioso a festa se tornou um evento cultural de grande destaque, a festa atrai turistas e moradores que celebram a diversidade e a vitalidade das tradições afro-brasileiras, é um verdadeiro encontro de fé, cultura e comunidade que reforça a identidade única de Arraial D’Ajuda.
A concentração começa na Praça São Brás, bem em frente à igreja de Nossa Senhora D’Ajuda em um momento emocionante, onde o “povo de santo” se reuniu em volta do andor de Iemanjá, ao som dos atabaques começam ali às reverências ao Orixá, onde os filhos de Santo dançam ao som dos atabaques, espalham água de cheiro, fazem defumações e colocam suas cabeças ao chão, em sinal de reverência a Iemanjá e ao Babalorixá presente.
Na Bahia em particular, o sincretismo é refletido em um ato de muito amor e integração entre as religiões, após a concentração o andor e a imagem da orixá e seus fieis, os filhos de santo, são recebidos com acolhimento dentro da Igreja de Nossa Senhora d’Ajuda em um momento singular, onde o padre e Babalorixá José Luís Candeias, do ilê de Xapanã compartilham suas bênçãos em um gesto de respeito mútuo e união religiosa, com cânticos sagrados dos Orixás e as preces católicos como pai nosso e ave Maria. É um símbolo poderoso de integração, onde fé e espiritualidade transcendem as diferenças.
Após as bênçãos iniciais, começa a procissão, o andor sai da igreja e percorre as ruas do bairro em direção à praia dos pescadores, com certeza um dos momentos mais lindos da festa, onde milhares de pessoas seguem a imagem da Orixá em um cortejo muito animado, pontos de umbanda e cantigas de Candomblé são cantados a todo momento, enquanto mulheres mais velhas jogam água de cheiro e batem folhas nas pessoas presentes pelo caminho até chegar à praia.
A chegada na Praia é momento de maior entrega e adoração, é a hora de agradecer e entregar seus pedidos para o ano todo a Rainha do mar, O barco com as oferendas é cuidadosamente preparado com Flores, perfumes e outros presentes biodegradáveis que serão levados ao mar, os filhos de santo organizam tudo com atenção e reverência outros, outros balaios e presentes são entregues diretamente às águas pelos diversos participantes participantes, cada um a sua forma, professando sua fé, criando uma celebração coletiva e espiritual intensa. Esse momento é de profunda conexão, onde os devotos se expressam em gestos de devoção, acreditando no poder de iemanjá para abençoar e proteger suas vidas, para pedir saúde paz e tranquilidade, é o momento de falar ao mar, de fazer seus pedidos mais intensos.
Dali, os fieis e filhos de santo levam os presentes para dentro do mar, que seguem em barcos e canoas para entrega dentro do oceano, ó babalorixá carrega responsabilidade da entrega, levando a grande a Rainha do mar todos os pedidos e anseios e agradecimentos de toda a comunidade! Mas a festa não acaba por ali, a festa de Iemanjá é tão grande e representativa em Arraial D’Ajuda que o evento conta com a parceria da prefeitura, que preparou e organizou diversos shows na praça São Brás, um espetáculo a parte que complementa e difunde a nossa cultura cada vez mais!
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